domingo, 5 de dezembro de 2010

Cai a chuva, de chuvas sensações...

Que estranhas sensações não nos vem ao simplesmente olharmos a chuva?

Percebi isso com grande surpresa esses dias, enquanto, da minha varanda, sentado em minha rústica cadeira de madeira, eu olhava a chuva caindo, avassaladora, sobre a massa de concreto da cidade, lavando as paredes dos prédios, os telhados, os asfaltos da rua, e criando uma atmosfera de confortável solidão. Não que a solidão seja algo que me agrade, mas a solidão da chuva... essa solidão me agradou imensamente.

Era como se, por alguns breves minutos, todas as minhas preocupações estivessem sendo diluídas com a água, indo-se embora pelas calhas das casas, pelas calçadas da rua, pelos bueiros da cidade. Dentro de mim parecia sobrar um vazio fresco, rejuvenescedor, descomprometido do mundo. Não mais a desconcertante política, não mais as brigas mal resolvidas, não mais a miséria, as desgraças do mundo: somente a chuva, a chuva, a chuva, e nada mais.

No entanto, é justamente nesse momento que o hiato que somos se torna ainda mais evidente. O sol parece dar-nos uma razão; a chuva, o vazio interminável, o que há por detrás dos ossos de Lucy ou do ovo de uma galinha. O universo inteiro parece dentro das gotas d'água, as gotas d'água todas dentro de nós.

E quando a chuva passa... De novo retornam os momentos vividos, com um peso insuportável o mundo retorna aos nossos ombros, leva-nos ao chão, novamente a realidade de olhos amarelos e de raios aos quais não podemos olhar. 

A chuva se vai, vão-se as tranquilas inquietações, o vazio confortável. Mas como um sonho que se acaba, resta-nos a lembrança de termos sonhado, e a certeza de um novo sonho que ainda está por vir.

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